O QUE É TEMPO? (parte1/3)
Para uns, é uma ilusão. Para outros, uma implacável grandeza física ou biológica.
28/01/2010
Por Greice Costa
Colaboração: Patrícia Ribeiro, Cacau Peres e Cristiane Tabarelli
Tempo em pensamento
O tempo sempre foi objeto de estudo dos homens, mas ainda não há uma teoria final que o defina. Registros sobre a consciência da passagem do tempo começam na pré-história – arte rupestre documentando nascer e pôr do sol, por exemplo. Alguns dos escritos mais antigos sobre o tema vêm do Egito antigo, de antes de 2650 a.C.:
"Não deprecie o tempo seguindo o desejo, porque a perda de tempo é uma abominação ao espírito" (Ptahhotep).
Os Vedas, textos da filosofia hindu com mais de 4 mil anos, colocam o tempo em ciclos de criação, destruição e renascimento do Universo que duram 4.320.000 anos. Na Grécia, antes de 400 a.C. nasceram muitas visões sobre o tempo. Para Platão, seria um processo cíclico que coexistia com o mundo, a "imagem móvel da eternidade". Aristóteles também acreditava nessa coexistência com o mundo e que este era finito, mensurável e, mesmo assim, eterno. Ele admitia que o "tempo é um número do movimento".
Santo Agostinho, no século IV, defendeu que o tempo não podia existir fora do espírito. Dividiu o tempo em três, com referência no presente: o presente do passado (memória), o presente do presente (atenção) e o presente do futuro (espera).
Os filósofos e teólogos medievais desenvolveram o conceito do tempo do Universo com um nascimento certo, baseado no mito da criação, compartilhado pelas três religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Os cristãos ainda acreditam no fim, quando Jesus retorna para o Juízo Final.
Culturas ancestrais como incas, maias, algumas tribos americanas, babilônios, budistas, jainistas e, como vimos, hindus, preferem a ideia da roda do tempo, retratando-o cíclico, em eras nas quais o Universo nasce e se extingue. Para o filósofo alemão Immanuel Kant, do século XVIII, o tempo era um conceito inerente à mente humana e não uma característica do mundo externo. Para o indiano Krishnamurti (século XX), toda a consciência é no tempo – tempo em pensamento, que é a resposta da memória, que é o passado, que se move para o presente até o futuro. A estrutura da consciência, assim como do inconsciente, está na estrutura do tempo, não apenas o cronológico, mas também o psicológico. Dividimos essa consciência entre superficial e escondida. A superficial é a mente educada, moderna. A escondida são todos os fatores latentes do passado. Algumas partes dela estão despertas, outras dormem.
Tempo é dinheiro?
Até o século XVII, os homens mediam o tempo pelas
tarefas que faziam. O puritanismo protestante começou
a inverter essa "conta" – o homem começou a acumular
riquezas e realizar trabalhos para Deus, e assim passou a
fazer o maior número possível de tarefas em determinado
tempo. O capitalismo reforçou essa ideia e a tecnologia
acelerou o ritmo. Vivemos em uma era que valoriza a produtividade
e a velocidade.
Como contraponto, pensadores como Bertrand
Russell e Domenico de Masi colocaram a importância
do ócio no tempo do homem. O último destaca que
hoje luxo não é acumular dinheiro, mas tempo livre.
E o que nós, praticantes de Yoga, temos a ver com
isso? Dedicando tempo à nossa prática, podemos ganhar
presentes, principalmente o presente em si. Em
seu Yoga Sutra, Patañjali diz que a prática (esforço de
manter a estabilidade) torna-se bem centrada quando
contínua, com devoção reverente e sem interrupção
por um longo período de tempo. Princípios como
autoconhecimento e verdade o levam a descobrir o
que é essencial para você. Desapego ajuda a refletir se
você realmente precisa dispensar tanto tempo de sua
vida para ganhar mais dinheiro.
E para seguir um ideal: Kaivalyam é a condição em
que acontece a perfeita integração entre o praticante
e o universo ao seu redor e ambos tornam-se um. A
mente não se limita mais a pensamentos nem é influenciada
pelas inconstâncias do tempo, e é indiferente
às mudanças, pois não se subordina às qualidades
da matéria.
Não é exatamente a busca do tempo livre, mas do
tempo em liberdade.
Em ciências
Na física, o tempo é considerado uma das grandezas fundamentais. Atualmente os cientistas acreditam que o Universo, inclusive o tempo, surgiram no Big Bang, a grande explosão, há cerca de 12 bilhões de anos. Stephen Hawking, um dos cientistas mais importantes de nossa época, diz que mesmo que o tempo não tenha começado no Big Bang, nenhuma informação antes desse período seria acessível e nem teria efeito sobre o nosso presente.
Galileu, no século XVI, e Isaac Newton, entre os séculos XVII e XVIII, introduziram a medida do tempo e de alguma forma o imobilizaram. Antes deles, o tempo era conhecido intuitivamente, era algo subjetivo e orgânico. Ao ser medido, deixou de fazer parte do todo, da natureza, e passou a ter uma existência abstrata e independente. Na mecânica de Newton, o tempo é um parâmetro que nada faz. Por seu lado, Gottfried Leibniz, contemporâneo de Newton, afirmou, antecipando Albert Einstein, que tempo e espaço são relativos.
Já no século XX, Einstein, com sua Teoria Geral da Relatividade, revelou que o espaço e o tempo podem ser distorcidos na presença de matéria e de energia devido a um processo gravitacional. Assim, devolveu-os à natureza como algo real, que participa e que se transforma.
Atualmente questiona-se se é possível definir o tempo quântico, ou ainda se este tempo quântico tem direção. O tempo quântico provavelmente não pode ser definido e talvez nem exista, já que faz parte do microscópico mundo quântico de átomos, núcleos atômicos e partículas subnucleares, onde tudo pode acontecer. Amit Goswami contesta as teorias materialistas e desconstrói a ideia de que a matéria é o principal elemento formador da criação. Ele afirma fazendo seu o ensinamento da milenar tradição hindu, no qual a consciência é o fundamento de tudo aquilo que conhecemos e percebemos.
Fontes:
• O Tempo através do Tempo ou Tempo É uma Ilusão, Prof. Dr. Paulo Laerte Natti, Profa. Dra. Érica Regina Takano Natti
• Na Medida Certa, Alexandre Vinicius C. Damasceno e Roseane Corrêa Gomes
• Wikipedia
• A Eliminação do Tempo Psicológico, J. Krishnamurti e David Bohm
• O Universo Autoconsciente – Como a Consciência Cria o Mundo Material, Amit Goswami
Artigo extraído do site www.eyoga.uol.com.br
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